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domingo, 26 de outubro de 2014

Bonga distinguido em França, lamenta esquecimento de Portugal



“”(…)Hoje com 72 anos, mais de metade com uma carreira que passou em grande parte por Portugal, Bonga confessa que tem tido menos espetáculos no país, admitindo algum desconforto com a situação.
"Eu não quero forçar nada. Quero é que me chamem", afirma, em entrevista à Lusa, na capital angolana. Admite que por "não entrar em cambalachos", na área da promoção dos espetáculos, só "de vez em quando" atua agora em Portugal.
Autor e intérprete de música tradicional angolana, Bonga atingiu o topo da carreira internacional na década de 1980, e tornou-se no primeiro artista africano a atuar a solo, e em dois dias consecutivos, no Coliseu dos Recreios.

Agora, a distinção que vai receber de França, país que diz que lhe "abriu as portas" e língua em que lançou o primeiro trabalho em 1975, contrasta com algum esquecimento a que a "Mariquinha" ou a "Currumba" - temas popularizados e ícones da carreira de Bonga - ficaram votados em Portugal.
"Vou receber agora um dos maiores prémios da Cultura pelo Governo francês. Portugal nunca me deu nada", desabafa, sem esconder o desalento por não atuar com "aquela assiduidade" no país.
"Mas o que tinha a fazer em Portugal já fiz", afirma.
O músico falava durante o II Angola Wine Festival, que termina hoje em Luanda, onde apresentou o vinho com o seu nome, fruto de uma parceria com a adega portuguesa de Palmela.
"Com quarenta e tal anos de carreira continuo na boa", remata Bonga.”” – FONTE :  NOTÍCIAS  AO MINUTO

SME Maioria de estrangeiros impedidos de entrar em Angola são portugueses



“”(…)  As autoridades angolanas impediram a entrada no país a 33 estrangeiros, no último mês, na posse de vistos alegadamente falsos, sendo maioritariamente cidadãos portugueses, segundo dados do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME) compilados pela Lusa.
Segundo o SME angolano, apenas entre 16 e 22 de outubro foram detetados 11 casos, maioritariamente cidadãos portugueses, quando tentavam entrar em Angola através do aeroporto internacional da capital.
Na semana anterior tinham sido registados, segundo aquela força policial, igualmente 11 situações do género, também na sua maioria envolvendo portugueses.
Nas duas semanas antecedentes foram contabilizados pelo SME mais 11 casos, nas mesmas circunstâncias.
Embora sem quantificar, o SME confirma, sobre os casos da última semana, através do posto de fronteira aérea de Luanda, a "recusa de entrada de 11 cidadãos estrangeiros por uso de visto falso, sendo a nacionalidade portuguesa a maior percentagem".

Este tipo de caso não implica, por norma, a detenção destes cidadãos, apenas o seu repatriamento no primeiro voo disponível, entre outras medidas.
No final de agosto, aquela força policial responsável pelo controlo de fronteiras e migração confirmou que mais de 200 passaportes com vistos de trabalho alegadamente falsos estavam apreendidos para investigação, por suspeita de emissão fraudulenta, também com Portugal a liderar uma lista de quinze nacionalidades.
Países como Brasil, Moçambique, Nigéria, Líbano, Mauritânia, Egito, China, Cuba, Ucrânia, Turquia, Jordânia, Macedónia, Costa de Marfim e Malaui figuram igualmente na lista das nacionalidades de cidadãos cujos passaportes foram apreendidos pelo SME.

As empresas que contratam estes trabalhadores chegam a pagar a redes clandestinas, dentro e fora de Angola, 5.000 a 12.000 dólares (entre 3.700 e 9.100 euros) por cada visto falso. Oficialmente, o processo para obtenção de um visto de trabalho em Angola, a partir dos consulados do país, ronda os 400 dólares (300 euros).
Ainda na semana de 16 a 22 de outubro, o SME expulsou de Angola 1.240 estrangeiros por via administrativa e 15 por via judicial, menos 240 casos face à semana anterior.

Além disso, indicam ainda os números oficiais do SME, estão contabilizados atualmente, através dos Centros de Detenção de Estrangeiros Ilegais, 676 cidadãos em situação irregular, que "aguardam a formalização das respetivas expulsões", maioritariamente da República Democrática do Congo.
O SME recebeu também, na última semana, 4.346 pedidos para emissão de diversos tipos de visto, tendo sido autorizados 534.
No mesmo período, por infrações migratórias, foram sancionados com multas 108 cidadãos.
Entraram em Angola, ainda na última semana, 8.629 estrangeiros e saíram 7.003, num fluxo migratório que se reporta aos postos de fronteiras terrestres, fluviais, aéreos e marítimas.”” – FONTE :  NOTÍCIAS  AO MINUTO

2015 Economist revê em baixa crescimento de Angola para 4,8%



“”(…)  De acordo com a atualização de outubro do 'Country Report', a que a Lusa teve acesso, os analisas da unidade de análise económica da revista The Economist, a revisão em baixa do crescimento da economia é justificada com uma descida da despesa pública, uma previsível descida nos preços do petróleo no próximo ano e um aumento abaixo do esperado na produção petrolífera.
"Prevemos agora que a produção chegue aos 1,85 milhões de barris por dia em 2015, em baixa face à previsão anterior de 2 milhões por dia", lê-se no documento.

Em 2016, o Produto Interno Bruto de Angola deve acelerar para os 5,7%, crescendo para uma média de 6,3% entre 2017 e 2019, "sustentado num consumo privado sólido", de acordo com as últimas projeções desta unidade de análise económica.
No documento, explica-se também que apesar da aceleração no crescimento da economia, Angola tem ainda muitos problemas: "O crescimento vai continuar a alicerçar-se em capital intensivo e dependente das importações, com poucas ligações a áreas da economia que não sejam dominadas pelo governo, como a construção ou as finanças".

O setor não petrolífero, "nomeadamente os transportes, a indústria ligeira, o comércio e os serviços, vão expandir-se rapidamente, mas a falta de reformas e taxa de câmbio sobrevalorizada vão garantir que o ambiente empresarial se mantenha adverso, restringindo o investimento fora do setor da construção e dos hidrocarbonetos".

Os esforços do Executivo para ajudar à criação de pequenas e médias empresas "vai ser dificultado pelo fraco capital humano, regulamentações deficientes, fornecimento de energia ineficiente, altos níveis de corrupção e a intrusão do setor público no investimento privado", acrescenta a atualização que foi enviada aos clientes da EIU esta semana.”” – FONTE :  NOTÍCIAS AO MINUTO

sábado, 25 de outubro de 2014

Radio Angola: 5ª Edição do Resumo Semanal das Noticias sobre Angola

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A 5ª Edição da Revista Semanal da Rádio Angola foi apresentada no dia 24 de Outubro por Carlos Lopes e Serafim de Oliveira foram abordados os seguintes tópicos de destaque:

1.      A situação do BESA depois do BNA dar 7 dias para ser injetado dinheiro
2.      Casa CE exige mais detalhe sobre o envio de tropas Angolanas para a República Centro Africana.
3.      Orçamento do Estado Angolano vs. descida dos preços do petróleo
4.      Polícia portuguesa apreende milhões de Bento Kangamba
5.      Violações dos Direitos Humanos em angola

Perguntas e sugestões podem ser enviadas para info@friendsofangola.org. A Rádio Angola – uma rádio sem fronteiras – é um dos projectos da Friends of Angola, onde as suas opiniões e sugestões são validas e respeitadas!

DOMINGO DE ANGOLA



""Texto que parece uma pintura  Que parece um poema  Que parece um hino...""


Para mim, domingo de Angola é paraíso. É um Céu. Colorido. É moamba de peixe ou caril de galinha de Quilengues. Domingo de Angola não tem rival no mundo. Começa na praia e acaba na sesta. Não tem Sporting-Benfica, nem linha de Sintra, não tem passeio a Vila Franca. Não tem touros, nem Cacilhas, nem caracóis no Ginjal. Domingo de Angola, para mim, é o melhor domingo do mundo que eu conheço – e que já não é nada pequeno, benza-o Deus.
Moamba para mim é um ritual. Tem pirão de fuba de mandioca – que eu sou do Sul, usa-se de milho, mas eu prefiro de mandioca à moda do Norte, à moda de Malanje, tal qual no Uíje – mete farinha de pau e obrigado velha que está uma delícia. Tem de ser comido à sombra de um palmeira ou coqueiro, debaixo de uma mandioqueira ou mangueira quando é no interior. Porque coqueiro só no litoral. É por estas e por outras que eu gosto do domingo em Angola. Domingo de Branco. Domingo de Preto. Domingo de todos, domingo de missa, de padre, de domingo.
A verdadeira moambada, aquela que é feita de galinha tenra, tão tenra que sabe a peito de virgem, a moamba verdadeira, tem de ser do cacho primeiro da palmeira do quintal. O molho será apurado pelo velho cozinheiro, que foi mestre dos pais, dos filhos e dos filhos dos filhos. Tem molho que é de “come e arrebenta e o que sobra vai no mar” como dizia o poeta patrício e mulato Viriato da Cruz, no “Sô Santo”. Moamba verdadeira, repito, só se come duas ou três vezes na vida. É preciso estar-se em estado de graça. Estar-se com Nosso Senhor e com os anjos.
Moamba para mim, é saudade, hoje que estou longe, hoje que estou perto. Estou perto de estar tão longe. Não compreendem leitores? A gente está longe e tem saudades. Antes de adormecer, pela noite, vem a lembrança, da pitangueira do quintal, da Rosa Lavadeira, do amo-seco Canivete que falava “axim” à moda de Viseu, e tudo isso aparece nítido, cada vez mais claro e puro como certas horas da madrugada da Serra do Lépi. A primeira vez que comi moamba, dela me lembro como da primeira vez que beijei mulher, do primeiro desafio de futebol, do primeiro amor nocturno na areia da praia, com mulher de verdade. A primeira moamba, lembra-se como se lembra a primeira ida à escola.
O travo nativo do cacho de déndém, que leva meses a fazer-se, até os frutos terem a tonalidade da queimada. Metade o clarão no céu da noite, a outra metade, escuro, um escuro de breu. Tudo isso o sabor tropical junta naquele fruto, que tem brisa do mar, sol de praia, frescura de casuarina, amor de mulata. O coconote e as influências indianas nadando no molho. Tem jindungo, a moamba genuína, aquela que cheira a sândalo, que escorre do canto da boca, do patrício apaixonado, de olho rútilo e lábio trémulo. Mas a galinha, essa tem de ser de Quilengues, magra e criada no mato, quase sem penas, galinha de sanzala, galinha de preto, que é como quem diz, de pobre. Isto está divinal, velha, eu um dia volto. Se entra a erva-doce, zumba que zumba e farinha de pau, oh, céus, oh, Mãe, isto não é moamba, isto é poesia. Literatura.
Mas tem de ser comida no terreiro da casa de adobe do bairro velho. Tem de ser comida em ritual, na casa de adobe com telhado de zinco da estrada da escola da Liga, ou num dos Muceques de Luanda, por sobre as areias avermelhadas do Prenda ou do Burity.
Depois a altura do peito de mulher na moleza da carne ou do peixe. Se é “roncador”, aka, é peixe da costa e sabe que sabe tão bem. Mas de galinha é melhor. Galinha de Quilengues escanifrada, repito. Galinha de pobre.
Fico por momentos em êxtase, as mãos sobre o estômago, lembrando o terreiro da família Gamboa lá de Luanda onde comi uma coisa dessas uma vez há muitos anos. Num bairro velho de Benguela, eu estarei ainda um dia com meus companheiros dos tempos de eu menino, comendo moamba e bebendo quissângua à sombra do bambu do Edelfride – na casa do Edelfride.
Moamba é riqueza de pobre e fraqueza de rico. Entra em palácios sem pedir licença, com o mesmo à vontade com que se senta nos quintais com sombra de mangueira e entra em terrina de esmalte, prato de esmalte, caneca de esmalte, garfo de alumínio. Velho sonho de poeta, lembrança de castimbala, moambada para mim é saudade e sonho, recordação e batuque, história de amor.
Um dia, quando eu voltar, hei-de comer uma moambada de peixe ou de carne, à sombra de um cajueiro, num Muceque de Luanda, moamba do cacho primeiro da palmeira do quintal, não é velha? Depois de muito beber dormirei a sesta. E hei-de gostar de ouvir um desses rapazes do meu tempo, feito velho de cabelos brancos, recitar baixinho enquanto adormeço, a balada do Viriato:
“… Kitoto e batuque pró povo lá fora champanha, ngaieta tocando lá dentro…
Garganta cantando:
“Come e arrebenta
E o que sobra vai no mar…”
Para mim, domingo de Angola é isso tudo. Um Céu colorido. Uma moamba de peixe. Uma noite de luar.
… não tem Sporting-Benfica, não tem touros, nem caracóis no Ginjal…

AUTOR : Ernesto Lara Filho, Poeta e Cronista, in "Jornal de Notícias 1957"