“”(…) Existem 9440 empresas em
Portugal que exportam os seus produtos para Angola, e, destas, mais de metade
não vende para mais nenhum mercado externo. De acordo com os dados solicitados
ao Instituto Nacional de Estatística (INE) pelo PÚBLICO, verifica-se que, no
ano passado, 5256 empresas dependiam a 100% de Angola para realizar as suas
vendas para fora do país. Em valor, representaram 1234 milhões de euros, o que
equivale a 41% do montante arrecadado com as exportações para Angola durante o
ano passado.
Este número, algo surpreendente, surge numa altura
em que as importações angolanas de produtos portugueses estão a sofrer uma
forte quebra, enquadrada pela crise económica que Angola está a atravessar
devido ao baixo preço do petróleo. Além disso, soma-se ainda a ameaça dos
atrasos nos pagamentos, mesmo quando se faz negócios.
A falta de diversificação e forte exposição ao
mercado angolano de milhares de micro e pequenas e médias empresas torna-as
vulneráveis, com ameaças à sua tesouraria. Para a economista-chefe do gabinete
de estudos económicos e financeiros do BPI, estas empresas “provavelmente passarão
por dificuldades sérias, por dois motivos; por um lado, as necessidades de
importações de Angola tenderão a reduzir-se, por força do encolhimento e dos
condicionantes que afectam a procura doméstica; por outro lado, a queda das
receitas petrolíferas denominadas em dólares, reflecte-se em escassez da moeda
e maior dificuldade em realizar pagamentos internacionais, pelo que haverá uma
tendência para acumular atrasados”.
Até 5 de Junho, cerca de duas semanas após o seu
lançamento, havia já 312 pedidos de adesão à linha de financiamento para
aliviar a tesouraria das empresas que operam em Angola, lançada pelo Governo. O
valor total dos pedidos de financiamento era de 121 milhões de euros (cerca de
20% do total disponível).
Os números do INE mostram ainda que há outras 660
empresas que dependem a 91% e 99% de Angola, a que se somam outras 522 com uma
exposição de 76% a 90% (ver infografia). Entre Janeiro e Abril, o valor das
exportações de bens para Angola caiu 24,4% (para 725 milhões) face a idêntico
período de 2014. Ao mesmo tempo, no primeiro trimestre a China e a Coreia do
Sul (embora neste último caso possa ter havido um efeito extraordinário)
ultrapassaram Portugal como maior fornecedor externo de Angola.
Para Paula Carvalho, o impacto que estas empresas irão
sofrer está dependente do seu grau de resiliência. Ou seja, tudo irá depender
“da folga acumulada nos bons tempos e capacidade de a utilizar numa conjuntura
desfavorável, mas que deverá ser temporária”.
Esta responsável destaca que os preços do petróleo
estão a recuperar, “embora possam não voltar tão cedo aos patamares verificados
antes do Verão de 2014”, e que “o movimento de diversificação da actividade
económica (para actividades não relacionadas com o petróleo) em Angola deverá
continuar, significando que o futuro e as perspectivas do país continuam
positivos”.
Para algumas empresas, a alternativa às
exportações poderá passar pela produção local, mas este é um caminho que demora
a ser percorrido, e não está isento de percalços. Os últimos dados disponíveis
dão conta de um arrefecimento de novos investimentos em Angola: nos primeiros
sete meses do ano passado foram aplicados apenas 55,9 milhões (ver infografia).
Esta segunda-feira, o ministro da Economia,
António Pires de Lima, vai assinar em Luanda um memorando de entendimento com o
seu homólogo angolano, Abraão Gourgel, para lançar o observatório para o
investimento entre os dois países. A ideia, conforme afirmou o ministro ao
PÚBLICO, “é dar visibilidade aos vários projectos de investimento que existem”
, embora tenha dito não esperar “milagres” com a sua criação. Na terça-feira
terá lugar a realização do primeiro fórum empresarial Angola-Portugal. “” –
FONTE : PÚBLICO
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