Rádio Angola Unida (RAU): 209º Edição do
programa "7 dias de informação em Angola" apresentado no dia 25-3-2021
por Serafim de Oliveira com análises e comentários de Carlos Lopes:
- O MPLA e a UNITA voltaram aos
habituais discursos inflamados e acusações mútuas nesta quarta-feira, 24, o que
nos círculos políticos de Luanda é entendido como o regresso ao clima de
crispação política, entre os principais partidos angolanos, em período
pré-eleitoral. Depois de, em recentes declarações públicas, o deputado NelitoEkuikui
ter acusado o Governo provincial de supostamente estar a distribuir armas à
população de Luanda para “criar instabilidade social”, a resposta do MPLA não
se fez esperar. O seu porta-voz , Albino Carlos, disse que as declarações do
dirigente da UNITA são reveladoras da derrota da organização nas próximas
eleições e acusou o principal partido da oposição de, alegadamente, estar por
trás do que chamou de “manifestações desordeiras”. Carlos afirmou que dentro da
UNITA “há uma forte contestação à sua nova liderança, há deserções de vários
militantes, vários responsáveis da UNITA descontentes com esta liderança e nós
achamos que isto é uma tentativa de ludibriar a opinião pública dos problemas
internos”. O porta-voz do MPLA acusou a UNITA de criar a instabilidade “no
sentido até de preparar os seus militantes para uma mais evidente derrota nas
próximas eleições”. Antes, na sua denúncia, o deputado Nelito Ekuikui e
representante da UNITA em Luanda apontou elementos da chamada “turma do apito”,
formada por jovens mobilizados pelo Governo para, segundo os seus mentores,
ajudarem a polícia a combater a criminalidade, de estarem por trás de tais
actos. “Estão a distribuir armas aqui em Luanda e não sabemos o que é eles
querem”, acusou o dirigente da UNITA. Por outro lado, numa outra declaração, a
UNITA acusou o MPLA de continuar “a manifestar a mesma natureza divisionista,
antipatriótica, corporativa, corrupta e corruptora”. A nota do partido do
"galo negro" acusa o MPLA de ter dado instruções aos órgãos de comunicação
social do Estado, “pagos com dinheiros de todos nós”, para atacarem o seu
presidente, Adalberto Costa Júnior fazendo dele um “alvo a abater". Para a segunda força política angolana, promover a difamação e o
assassínio de carácter dos promotores da mudança são "actos de claro
desespero, que não dignificam a democracia", e que "não vão impedir a
alternância democrática em 2022".
- O processo do empresário
angolano Carlos São Vicente, detido desde Setembro em Luanda, sob acusação de
crimes de peculato, participação económica, tráfico de influência e lavagem de
capitais, já se encontra no Tribunal de Comarca de Luanda. Após a apreensão dos
bens de São Vicente e passados cerca de seis meses de prisão preventiva na
Comarca de Viana e mais tarde na cadeia de São Paulo em Luanda, espera-se agora
pelo inicio do julgamento. A confirmação é do procurador Álvaro João, porta-voz
da Procuradoria-Geral da República (PGR), que numa curta conversa com a VOA,
acrescentou, no entanto, não poder falar mais sobre o processo. “Nós não
queremos mais nos pronunciar sobre o assunto quando já o remetemos em
tribunal”, reiterou. Carlos São Vicente é acusado dos crimes de peculato,
participação económica, tráfico de influência e lavagem de capitais. De
recordar que o empresário obteve nesta semana uma importante vitória judicial
na Suíça, onde o Tribunal Supremo anulou uma decisão do Tribunal de Genebra que
tinha ordenado o congelamento dos seus bens.
- O alerta é de uma associação
católica, enquanto Administrador diz desconhecer situação. Centenas de famílias
afectadas pela seca na província angolana de Benguela utilizam o farelo para
aliviar a penúria alimentar, chegando a dividir com animais as sobras do
produto que resulta da transformação de cereais, alerta uma organização
adstrita à Igreja Católica. Os Irmãos São Francisco de Assis (ISFA) sugerem que
se decrete estado de emergência humanitária, ao passo que a CASA-CE acusa o
Governo provincial de ter ignorado alertas para a situação vigente, lançados há
vários meses. Situado a 156 quilómetros da cidade de Benguela, Chongoroi, um
dos dois municípios eleitos há mais de um ano para o arranque do ‘’Kwenda’’,
programa de transferências monetárias, nesta parcela do país, vive uma situação
dramática, segundo Marcelino Muhepe, membro do ISFA. ‘’Sinto muito, bastante
mesmo. Realmente muitas famílias sobrevivem dos farelos, por isso acho que o
Estado deve decretar estado de emergência humanitária. Isso eu vi, ninguém me
contou’’, desabafa o membro da Igreja Católica.
Com apoio da União Europeia, os Irmãos São Francisco de Assis procuram
inserir algumas famílias num projecto produtivo.
- A Câmara de Comércio de Taizhou em Angola contratou um escritório
chinês de advogados para "melhor proteger os direitos e interesses dos
seus membros" devido às "mudanças na política e economia
locais". Segundo o Departamento de Justiça da Província de Jiangsu,
adjacente a Xangai, a Jiangsu Guanqian Law Firm vai ajudar a "proteger
melhor os direitos legais e interesses" dos membros da Câmara de Comércio.
A associação tem um papel "fulcral" na economia angolana e tem
servido de "ponte de amizade" entre a China e Angola, mas enfrenta
atualmente "uma situação mais complexa", sublinhou um comunicado. Zhu
Xingya, diretor executivo da Jiangsu Guanqian, prometeu ultrapassar as
dificuldades culturais e linguísticas para ajudar a associação a lidar com
"disputas legais no estrangeiro". O escritório de advogados quer usar
Angola como trampolim para mais tarde alargar a cobertura legal a outros países,
acrescentou Zhu Xingya. Em dezembro, o embaixador da China em Angola, Gong Tao,
tinha aconselhado os empresários chineses a reforçar o investimento em
segurança devido à "recente deterioração do ambiente de segurança
pública". A Câmara de Comércio de Taizhou em Angola reúne empresários com
ligações à cidade de Taizhou, na província de Jiangsu. A empresa Jiangsu
Jiangzhou Agricultural Science and Technology Development Co., Ltd investiu 12
milhões de dólares (10,15 milhões de euros) no projeto agrícola Jiangzhou Agriculture,
na província do Huambo. O projeto gerou 180 postos de trabalho no cultivo de
vegetais, fruta e cereais e na criação de gado bovino numa área de 2.544
hectares no município da Chicala-Cholohanga. Uma delegação das autoridades de
Taizhou visitou o Huambo em dezembro de 2019, tendo ficado marcada para maio de
2020 a visita de um grupo de empresários da província angolana à China. A
iniciativa foi cancelada devido à pandemia de covid-19.
- O diretor para África da agência
de `rating` Fitch disse hoje que o impacto da nova alocação de Direitos
Especiais de Saque (DES) do Fundo Monetário Internacional (FMI) será muito
limitado em Angola devido ao peso da dívida. "É certamente uma coisa que
ajuda, mas Angola está num nível de rating CCC e isso indica uma situação
económica e orçamental bastante difícil, em que estamos preocupados
principalmente com o grande nível de dívida, que no final deste ano deverá
chegar aos 126,4% do PIB, e mesmo que desça tendo em conta a evolução do preço
do petróleo, a dívida continua num nível extremamente elevado", disse Jan
Friederich. Em entrevista à Lusa por videoconferência a partir de Hong Kong, o
diretor da Fitch Ratings para o Médio Oriente e África vincou que "uma
alocação de 1% do PIB não é assim tão significativa, mas certamente ajuda a
lidar com as pressões de financiamento imediato, mas a longo prazo não é uma
panaceia", acrescentou. A Fitch Ratings publicou um relatório onde aponta
que, numa lista dos 20 países mais beneficiados pela nova alocação de Direitos
Especiais de Saque (DES), e onde figuram Angola e Moçambique, o país mais
beneficiado em função do PIB é a Zâmbia, mas ainda assim influenciando o modelo
de atribuição de ratings em apenas 0,1 pontos, sendo que é preciso um ponto
inteiro para influenciar o rating. "Não antevemos um impacto significativo
nos `ratings` devido à alocação", lê-se no relatório enviado aos
investidores e a que a Lusa teve acesso, e no qual se aponta que Angola deverá
receber 777,7 milhões de dólares (655 milhões de euros) tendo em conta a quota
de 0,16% que tem no Fundo Monetário Internacional (FMI). O FMI deverá aprovar
nos Encontros da Primavera, em abril, uma nova alocação de 500 mil milhões de
dólares (420 mil milhões de euros) que permitirá aos Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa receber quase 1.300 milhões de dólares (1.095 milhões de
euros) em função da sua quota, podendo ser aumentado se os países mais
desenvolvidos aceitarem a proposta de emprestarem parte da verba que vão
receber aos países com mais necessidades orçamentais. Questionado sobre a
evolução económica de Angola, Jan Friederich disse que é possível ver uma
melhoria no crescimento económico face às previsões, mas alertou que o cenário
do FMI para a recuperação é demasiado otimista.
RAU – Rádio Angola Unida - Uma rádio ao serviço dos angolanos, que não
têm voz em defesa dos Direitos Humanos e Combate a Corrupção, em prol de um
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Os programas da Rádio Angola Unida (RAU) são
apresentados e produzidos em Washington D.C.
Perguntas e sugestões podem ser enviadas para
Prof.kiluangenyc@yahoo.com.
PARA OUVIR:https://www.blogtalkradio.com/profkiluangenyc/2021/03/26/angola-kwenda--um-paliativo-no-combate-contra-a-fome-1?fbclid=IwAR0RqCrK8myVSVpOAHpPDKeN4RA9zSl5619N2o3dHlmXnCD9_yKVfPnVULo
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