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quarta-feira, 23 de março de 2016

Quem vai suceder a José Eduardo dos Santos?


Quem vai suceder a José Eduardo dos Santos? ‏

FONTE: O semanário NOVO JORNAL nº 423 de 18/3/2016
Dossier Sucessão do PR
(A minha opinião está na pag. 4)

Na minha opinião, Eduardo dos Santos pretendeu criar impacto no Comité Central do MPLA, com a sua declaração de deixar a política activa em 2018. Fica claro, que ele pretende ser candidato a Presidente de Angola nas próximas eleições gerais previstas para 2017. O Comité Central do MPLA, mais uma vez, cumpriu as ordens do seu Presidente ao propor a sua candidatura no Congresso em Agosto do corrente ano.

Com essa declaração, conseguiu que a nação ficasse desperta para a sua estratégia política, mas a consequência imediata vai para as estruturas do MPLA. O MPLA ficou mais enfraquecido politicamente, porque o Comité Central e o Bureau Político são constituídos maioritariamente por velhos camaradas, que a curto prazo poderão ser substituídos por novos quadros, conforme anunciou no seu discurso. Este facto político criado por Eduardo dos Santos vai provocar uma instabilidade interna no MPLA, porquanto parte dos seus dirigentes não sabem se vão ou não continuar a beneficiar das mordomias que o partido tem consentido no actual regime.
Eduardo dos Santos, no seu discurso, lançou uma série de dúvidas para dentro do MPLA, no sentido de dividir para reinar. A sua intenção de lançar o seu filho Filomeno “Zenu” para a ribalta política, aproveitando o Congresso do MPLA em Agosto para esse efeito, só será possível com a saída compulsiva dos mais velhos camaradas e a serem substituídos por jovens quadros escolhidos a dedo. Isto não é muito claro no referido discurso, como também não é a possibilidade de adiar as eleições gerais para 2018, alegando a crise económica que se vive no país.

Resumindo, foi um discurso de incertezas políticas e com recados para dentro do MPLA, partindo do pressuposto que o seu partido irá ganhar as próximas eleições gerais em Angola, o que desde logo, é uma premissa errada. O discurso está no âmbito da estratégia pessoal de perpetuar a sua influência política numa Angola, que é vítima da sua má governação. Eu esperava um discurso de Eduardo dos Santos que fosse de consciencialização dos reais problemas de sobrevivência da maioria dos Angolanos e apresentação de soluções, mas que não aconteceu e isso demonstra que o Presidente do MPLA não tem capacidade política e de governação.
As estruturas dirigentes do MPLA estão à mercê do seu Presidente. Nos próximos tempos, vai-se assistir em surdina, a fortes críticas dos mais velhos camaradas à estratégia pessoal de Eduardo dos Santos. A possibilidade de “Zenu” vir a ser proposto para substituir o seu pai, é algo que vai criar fortes clivagens antes e depois do Congresso em Agosto.

Eduardo dos Santos precisará de mais um ano para que o MPLA se habitue a esta ideia, bem como o eleitor angolano chamado a votar nas eleições gerais. Se calhar, é por isso que anunciou o abandono da vida activa na política (decisão que peca por tardia, porque já o devia ter feito há muitos anos atrás) só em 2018 e não em 2017.

Eduardo dos Santos ficou aquém das expectativas ao referir-se apenas à gestão danosa e não falar na corrupção, que é o maior entrave ao desenvolvimento sustentável do país. Também continua a não referir-se à violação dos Direitos Humanos em Angola. Ou seja, os temas mais fracturantes da sociedade angolana nunca são abordados pelo Presidente do MPLA.
A possibilidade de participar activamente numa Conferência Nacional, que abordasse com frontalidade os problemas actuais do país, com a participação de todos os angolanos, a sociedade civil, partidos políticos, Igrejas, ONG’s e outras organizações cívicas, seria uma iniciativa bem-vinda e desejável no actual contexto angolano.


CARLOS LOPES
*Activista político



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