Rádio Angola Unida (RAU): 160º
Edição do programa "7 dias de informação em Angola" apresentado no dia 26-03-2020
por Serafim de Oliveira com análises e comentários de Carlos Lopes:
- "Com vista a evitar o máximo possível
o alastramento da pandemia e as graves consequências que lhes são associadas,
consultado o Conselho da República e ouvida a Assembleia Nacional declaro
estado de emergência que entra em vigor as 00:00 de 27 de março", afirmou
o Presidente angolano numa curta mensagem lida na televisão pública de Angola,
TPA. O estado de emergência vai durar 15 dias com início às 00:00 de
sexta-feira e cessa as 23:00 do dia 11 de abril, podendo ser prorrogado automaticamente.
Angola regista até hoje três casos positivos de infeção pelo novo coronavirus
causador desta doença. Não obstante o número de casos positivos registados até
23 de março ser ainda reduzido, o chefe do executivo angolano assinalou a
importância de aprender com "o erro dos outros", sendo recomendável
"tomar com a antecipação requerida um conjunto de medidas extraordinárias
e urgentes". Destacou, por outro lado, que o sucesso no controlo da
pandemia implica uma resposta rápida e adequada dos serviços de saúde,
"mas também o consentimento de sacrifícios de todos os cidadãos que ficam
assim limitados nos seus direitos e na sua vida social e profissional".
João Lourenço justificou ainda que a emergência em saúde publica "se
caracteriza como uma situação que demanda o emprego urgente de medidas
excecionais de prevenção, de controlo e de contenção de riscos para a saúde
pública".
- O Governo de Angola decidiu adiar a emissão
de títulos de dívida pública no valor de até 3 mil milhões de dólares para, no
mínimo, setembro, devido às altas taxas de juro exigidas pelos investidores. De
acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, que cita duas fontes
não identificadas, Luanda já decidiu adiar para setembro ou até mesmo para o
próximo ano a emissão de títulos de dívida soberana, na sequência da queda dos
preços do petróleo e da pandemia da covid-19. As taxas de juro exigidas pelos
investidores para transacionarem a dívida de Angola com maturidade a 2025 ronda
os 23,5%, o triplo do valor registado no princípio do mês, de acordo com a
Bloomberg, que escreve que o mercado financeiro está, na prática, fechado para
os emissores africanos devido aos receios dos investidores. A notícia do
adiamento surge poucos dias depois do decreto presidencial que autorizava a
ministra das Finanças, Vera Daves, a dar início ao processo de emissão de
dívida soberana num valor que podia ir até 3 mil milhões de dólares, cerca de
2,8 mil milhões de euros.
- O departamento de estudos do banco
sul-africano Standard Bank disse hoje que a economia de Angola vai enfrentar
"consequências negativas sem precedentes" se o petróleo se mantiver
nos preços atuais, mantendo-se em recessão este ano. "O petróleo está a
transacionar a cerca de 30 dólares por barril na altura em que escrevemos, e se
os preços se mantiverem nestes níveis históricos por algum tempo, isso trará
consequências negativas sem precedentes para a economia de Angola",
escrevem os analistas do departamento de estudos económicos do banco africano
Standard Bank. No relatório deste mês sobre as economias africanas, enviado aos
clientes e a que a Lusa teve acesso, os economistas lembram que o petróleo está
a transacionar a quase metade do valor inscrito no orçamento de Angola (55
dólares por barril) para este ano e antecipam uma subida da inflação e uma
descida do valor do kwanza face ao dólar. "A taxa de câmbio entre o dólar
e o kwanza manteve-se relativamente estável, à volta dos 500 kwanzas por dólar,
mas há uma forte probabilidade de que a taxa suba fortemente outra vez devido
às pressões de liquidez originadas pela pandemia da covid-19 e pela guerra de
preços entre a Arábia Saudita e a Rússia", dizem os analistas, que
antecipam uma desvalorização da moeda nacional angolana. "Aumentámos a
nossa previsão de câmbio para o final deste ano, para 719,6 kwanzas por dólar,
quando antes estava nos 629,8, o que representa um aumento anual de 49,2% face
aos 30,6% previstos inicialmente", salientam. A nível macro, o
departamento de estudos económicos prevê que Angola continue a registar um
crescimento negativo, à semelhança do que acontece desde 2016: "A
probabilidade de Angola sair da recessão de quatro anos diminui materialmente,
o PIB deve contrair-se novamente, quando a previsão inicial era de crescimento
de 1,4%", escrevem.
- A previsão de três meses para a reserva
alimentar em Angola, país que importa 80 por cento dos produtos da cesta
básica, pode esbarrar no que especialistas chamam de exagero na procura face
aos estragos da pandemia do coronavírus. No rescaldo de um encontro entre
operadores do comércio e o novo ministro do sector, Víctor Fernandes, o
economista Janísio Salomão alerta para a conjuntura internacional e reduz a
estimativa, quando uma empresa da área alimentar avisa que o aumento da procura
é equiparado a um cenário da quadra festiva. Terminada a correria imposta pela
seca, com o Governo e o setor privado já na redefinição da fórmula para o
combate à fome, a produção nacional volta a ser submetida a teste, agora devido
ao covid-19, que coloca centenas de cidadãos à porta dos centros comerciais. O
empresário Paulo Neves, ligado ao sector alimentar, diz que os angolanos furam
o baixo poder de compra a pensar num recolher obrigatório. ‘As pessoas, dentro
das parcas possibilidades financeiras, fazem reservas a contar com a baixa do
stock e a deterioração da situação da doença’’, revela Neves, para quem “com
este exagerar do consumo das pessoas, do precaver para dias piores, vai haver
problemas nos armazéns e nas lojas”. Aliás, avisa que “os preços já não são os
mesmos”. A prevalecer este cenário, o
stock não vai aguentar, tal como preconiza o economista e consultor empresarial
Janísio Salomao, que olha com preocupação para o peso da economia informal em
Angola. ‘’Se houver este pico, esta reserva que é para três meses … eu dou um
prazo de mês e meio. Devemos tomar medidas, o mundo está assim, aumentando os
casos as pessoas fazem quarentena, com aumentos no consumo’’, diz o economista.
O novo ministro do Comércio, a quem o Presidente João Lourenço pediu mais
ligação entre o campo e as cidades, ainda antes da confirmação dos três casos
positivos, foi aconselhado por operadores do ramo a reforçar a reserva para
evitar escassez. A importação de bens como frango, óleo de palma, farinha de
trigo, açúcar e arroz, no mês de Janeiro, absorveu 63 milhões de dólares,
segundo dados oficiais.
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Perguntas e sugestões podem ser enviadas para
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PARA OUVIR: https://www.blogtalkradio.com/profkiluangenyc/2020/03/27/angola-estado-de-emergncia-vs-impacto-no-tecido-social-mais-carente?fbclid=IwAR0SMdCYehT0WSYr3CWM1hn-FhzAWjcxVX8QNM6imc6B4zwX4PVopROWjpo