“Liberdade já, freedom now”: um vídeo viral que reclama uma Angola “onde pensar diferente não seja crime”
“”(…) primeira intenção do vídeo,
divulgado na segunda-feira na Internet, "é contribuir para chamar a
atenção, dentro e fora do país (Angola), para a situação destes jovens"
que foram presos, mas que ainda "não foram apresentadas provas que
sustentem a acusação", frisa José Eduardo Agualusa.
O vídeo "Liberdade Já" - divulgado nas redes sociais, na página do
Facebook "Liberdade aos presos políticos em Angola" e também no
Youtube - pede a libertação imediata de 15 ativistas que se encontram presos
desde 20 de junho.
Os detidos são acusados de estarem a preparar em Luanda um atentado contra o
presidente e outros membros dos órgãos de soberania, num alegado golpe de
Estado, de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola.
"Além disso, o vídeo pretende, evidentemente, chamar a atenção para a
questão da liberdade de expressão em Angola, para a situação que se vive em
Angola, infelizmente", salienta José Eduardo Agualusa.
"Estava-se à espera que o país fosse abrir para a democracia, que fosse
avançando para a democracia, mas nestes últimos meses temos assistido uma
situação inversa. O regime tem vindo a fechar cada vez mais e a perseguir as
poucas vozes críticas que se fazem ouvir", diz ainda o escritor.
Os organizadores da página na Internet e do vídeo fazem parte da sociedade
civil angolana, diz José Eduardo Agualusa, que os caracteriza como "um
grupo de cidadãos angolanos, na sua maioria jovem e de origem diferentes, de
contextos diferentes. São pessoas que conhecemos, são sobretudo artistas,
músicos, escritores".
"Eu conheço estas pessoas e fui contactado [para participar no vídeo]
através de amigos que fazem parte do grupo", refere ainda o escritor
angolano.
“Onde pensar diferente não seja um crime”
O vídeo assinalou o primeiro mês de prisão dos 15 ativistas e duas dezenas
de personalidades, sobretudo angolanas, aparecem nas imagens, entre os quais o
escritor Ondjaki, artistas como Kiluanji Kia Henda e Nástio Mosquito, o gestor
Cláudio Silva, músicos como Paulo Flores, Pedro Coquenão e Aline Frazão, entre
muitos outros.
"Os jovens presos lutam por uma Angola democrática, pacífica e
socialmente mais justa. Nós também (...) defendemos uma Angola onde pensar
diferente não seja um crime. Onde, pelo contrário, as pessoas sejam encorajadas
a pensar diferente, pois é nossa convicção que no confronto de diferentes
ideias podem sempre surgir ideias melhores. A maior riqueza de Angola não é o
petróleo, não são os diamantes. A maior riqueza de Angola são as pessoas, com
ideias diferentes e com um desejo comum de liberdade", dizem as
personalidades no vídeo.
"Da nossa parte, estamos a preparar um segundo vídeo, pois temos
recebido vários depoimentos de pessoas que querem fazer parte deste protesto.
Em paralelo, há outros grupos a organizar diferentes ações, entre elas a
manifestação do dia 29 de julho, convocada por um grupo de jovens ativistas
cívicos de vários extratos sociais", disse à Lusa a jornalista Marta
Lança, em nome do coletivo organizador do vídeo.
Um grupo de ativistas angolanos agendou para 29 de julho, em Luanda, uma
"manifestação pacífica" para denunciar "prisões arbitrárias e
perseguições políticas" no país, exigindo a libertação de vários colegas
detidos nas últimas semanas.
"A manifestação pacífica, nos marcos da Constituição de Angola,
realizar-se-á sob o lema 'Chega de prisões arbitrárias e perseguições políticas
em Angola'", lê-se na carta, à qual a Lusa teve acesso na semana passada,
convocando o protesto para 29 de julho, às 15h00 (mesma hora em Lisboa), no
Largo da Independência, no centro da capital.
Segundo a PGR angolana, os detidos em prisão preventiva são Henrique Luati
Beirão (conhecido como "Brigadeiro Mata Frakuzx"), Manuel "Nito
Alves", Afonso Matias "Mbanza-Hamza", José Gomes Hata, Hitler
Jessy Chivonde, Inocêncio António de Brito, Sedrick Domingos de Carvalho,
Albano Evaristo Bingocabingo, Fernando António Tomás "Nicola", Nélson
Dibango Mendes dos Santos, Arante Kivuvu Lopes, Nuno Álvaro Dala, Benedito
Jeremias, Domingos José da Cruz e Osvaldo Caholo (tenente das Forças Armadas
Angolanas).
Os jovens ativistas, estudantes e licenciados, estão atualmente distribuídos
por estabelecimentos prisionais em Viana (quatro), Calomboloca (sete) e Caquila
(quatro), na região de Luanda, tendo os advogados apontado dificuldades em
aceder aos mesmos e na apresentação de um recurso para pedir a libertação
provisória. “” – FONTE : EXPRESSO
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