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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A Honra do Espírito Santo e o Saque em Angola



“”(…)Há dias li, no Diário Económico, a firme reacção do arguido Ricardo Salgado, empenhado em defender a sua honra e dignidade, bem como a da sua família, por ter passado, aos olhos da opinião pública, de banqueiro a bandido. É o caso do colapso do Banco Espírito Santo, de que foi presidente.
Lembrei-me, inevitavelmente, da honra e da dignidade das famílias angolanas cujo sofrimento também tem sido agravado pelo conluio da família Espírito Santo com a cleptocracia de um outro Santo(s) que governa Angola, no saque do país.

Decidi reler uma secção da minha dissertação de mestrado em Estudos Africanos (Universidade de Oxford, 2009), sobre “A transparência do saque em Angola”. Esta secção, que analisava o investimento estrangeiro e o mercado do conluio, visava, como maior exemplo, o Banco Espírito Santo e a Escom, em Angola. Estruturei a transparência do saque como o modelo segundo o qual os dirigentes, de forma aberta e arrogante, transferem bens e fundos do Estado para si mesmos e/ou para seus familiares, praticando assim às escâncaras o enriquecimento ilícito. Esta transparência invertida refere-se também ao modelo de negócios em que contratos multimilionários do Estado são atribuídos a empresas detidas ou participadas por dirigentes e seus familiares, sem quaisquer receios legais ou políticos. “Os cães ladram, a caravana passa”: assim pensam e agem os dirigentes políticos angolanos e seus beneficiários.

Na minha dissertação, identifiquei nove áreas críticas que conformam a transparência do saque: privatização do Estado; transformação do MPLA em sociedade comercial; petróleos; diamantes; banca; segurança privada e privatização das lideranças militares; família presidencial e seu círculo restrito; legislação em vigor; e, finalmente, investimento estrangeiro e mercado do conluio.

Em tempos áureos, o Grupo Espírito Santo, através da Escom e do Banco Espírito Santo Angola (BESA), destacou-se neste país pela posição que ocupava e por exercer uma influência transversal em todas essas áreas críticas acima identificadas. Por esse motivo, detive-me um pouco mais a analisar de que forma, dentre os seus inúmeros negócios em Angola, o grupo se tinha apressado a criar três empresas no Zaire em parceria com o então governador provincial, general Pedro Sebastião. A Escom tinha, sem dúvida, a habilidade e o poder de comandar generais nos negócios da corrupção e do branqueamento de capitais. Ministros e outras figuras de proa aguardavam na fila pela sua vez. A família presidencial Dos Santos e os seus colaboradores mais próximos tinham ali um aliado reputado no mundo das finanças internacionais, por um lado, e uma excelente lavandaria, por outro.”” – FONTE: MaKa Angola

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