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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sobrinho revela que 3 mil milhões do BESA estão investidos em dívida angolana



“”(…)  O antigo presidente executivo do BES Angola (BESA) Álvaro Sobrinho assumiu perante a comissão de inquérito ao colapso do BES "todas as responsabilidades" pelas decisões tomadas à frente da entidade. As insuficiências de capital na entidade angolana, que levaram à criação de uma garantia estatal de Angola sobre 3,3 mil milhões de euros, têm sido um dos pontos centrais da comissão de inquérito.

"Durante dez anos que estive à frente da gestão do BESA mantinha-me informado, sabia do que lá se passava e decidia. E assumo todas as responsabilidades pelas minhas decisões", declarou Sobrinho na comissão parlamentar de inquérito à gestão do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo Espírito Santo (GES).
O responsável fez uma declaração inicial de menos de dez minutos perante os deputados, e declarou ser a comissão o "local e contexto apropriados" para responder a questões dentro daquilo que era o seu "conhecimento direto".

Sobrinho realçou que iria pautar as suas afirmações pelo "conhecimento pessoal e direto" que tem sobre estas matérias e "fornecendo factos" sobre as mesmas, abstendo-se de "comentar comentários", mesmo os referentes à sua pessoa.

"Não contribuirei para achincalhamentos pessoais sejam de quem for", sublinhou.

Linha de 3,3 mil milhões de euros

As insuficiências de capital na entidade angolana, que levaram à criação de uma garantia estatal de Angola sobre 3,3 mil milhões de euros, têm sido um dos pontos centrais da comissão de inquérito.
Os trabalhos têm por intuito "apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos, e as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades".

O ex-presidente do BESA assegurou que os mais de três mil milhões de euros de crédito concedido pelo BES à entidade angolana, que não foram reembolsados, nunca saíram de Portugal.

"Dizer que este dinheiro saiu para financiar o BESA não é verdade. O dinheiro ficou no BES Portugal", afirmou Álvaro Sobrinho na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.
Sobrinho justificou que "todas as operações com moeda estrangeira eram feitas, sempre, pelo BES", pelo que os montantes em falta "nunca saíram do BES para o BESA".

Segundo o ex-presidente do BESA, "a concessão de crédito do BESA seguia regras próprias", passando por um comité de crédito.

"As propostas, como em todos os bancos, eram feitas de maneira a que quando fosse tomada uma decisão, a gestão de risco do banco já tinha parecer, pelo que fica para a comissão executiva e o conselho de administração do BESA a sua aprovação.

"A linha do BES ao BESA é uma grande questão para toda a gente. Esta linha foi feita, se não me engano, em 2008. Iniciou com 1,5 mil milhões de dólares e tinha como finalidade a tomada firme, a subscrição, de um fundo de desenvolvimento do Estado angolano", relatou.

E revelou: "Parte deste dinheiro foi usado para comprar obrigações do Estado, com uma maturidade de 10 anos. Em relação ao resto do dinheiro, o BESA pagou 700 milhões de dólares de juros nos últimos três anos".
 Sobrinho disse que o BESA tinha um "custo de financiamento de 10%", continuando a descrever os procedimentos normais de crédito do banco angolano no âmbito deste financiamento recebido pelo BES.

"Parte desta linha foi feita via 'trade finance' a empresas portuguesas exportadoras. O BESA emitia as cartas de crédito, o BES confirmava-as e pagava e o BESA fazia as transferências", sublinhou.

De acordo com o responsável, "muitos desses clientes, além de exportadores, eram importadores". E reforçou: "O crédito ficava no BESA, mas o BES recebia o dinheiro. Mesmo a operação das obrigações, o dinheiro não saiu do BES para o BESA", sublinhando que foi diretamente para o Banco Nacional de Angola (BNA).

Buraco deve-se a incumprimentos angolanos

O ex-presidente do BES Angola justificou a falta de reembolso dos mais de três mil milhões de euros de crédito concedido pelo BES ao banco africano com o incumprimento das empresas que beneficiaram do dinheiro.

"O que correu mal, vendo bem, é que o crédito por assinatura entra nas contas extrapatrimoniais. Só entra em crédito [no balanço] se há incumprimento. Se passamos uma carta de crédito a um banco, ela só irá contar mais tarde", afirmou o responsável no parlamento.

"O exportador recebia o dinheiro, mas o importador, por qualquer razão, não pagava a carta de crédito. Portanto, deixava no banco um crédito. Deixava de ser um crédito extrapatrimonial e passava a balanço", declarou ainda Sobrinho, para acrescentar que "isto era comum no BESA". “” – FONTE : RTP

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