“”(…) A queda do preço do petróleo fez abanar os
alicerces da economia angolana e está a contaminar as milhares de empresas
portuguesas que têm relações comerciais com o país.
É o efeito
dominó. A queda do preço do petróleo fez abanar os alicerces da economia
angolana, vai derrubando peças e está a contaminar as milhares de empresas
portuguesas que têm relações comerciais com o país.
O Governo angolano já começou a limitar as importações, irá parar alguns dos projectos de obras públicas e mostra a intenção de diversificar a economia. Em paralelo, começam a escassear dólares no mercado e o Banco Nacional de Angola já está a aplicar restrições na cedência de divisas à banca comercial.
Este efeito dominó não se esgota aqui. Os bancos portugueses com actividade em Angola vão ressentir-se do aperto da economia e os milhares de portugueses expatriados em Angola já estão a sentir dificuldades em transferirem dinheiro para Portugal. A TAP já pôs trancas à porta e deixou de aceitar kwanzas (moeda angolana) para o pagamento de viagens entre Lisboa e Luanda.
O
"exercício de austeridade" que terá impactos significativos para
muitas empresas nacionais foi anunciado a 29 de Novembro pelo ministro das Finanças
angolano, Armando Manuel, numa nota publicada no site do Ministério. Os
primeiros efeitos começam agora.
Petróleo
O motor angolano avariou
O motor angolano avariou
O preço do
petróleo foi o rastilho que fez rebentar o " exercício de
austeridade" em Angola, anunciado a 29 de Novembro pelo ministro das
Finanças, Armando Manuel. "Este quadro [preços do petróleo baixos]
demandará para a economia angolana um exercício de austeridade e repriorização
na despesa pública, para assegurar a sustentabilidade da agenda de desenvolvimento,
assim como demandará uma acentuada racionalidade da parte de todos os agentes
económicos (incluindo as famílias e empresas)", explicou o governante.
Inicialmente, Angola tinha previsto no Orçamento do Estado para 2015 receitas provenientes do petróleo, na permissa de 81 dólares o barril. Em Fevereiro, fará um orçamento rectificativo onde esse valor se situará nos 40 dólares.
O petróleo é o motor da economia angolana, vale 45% do PIB, capta uma boa fatia do investimento estrangeiro, é responsável por 98% das exportações e 80% das receitas fiscais. A venda de petróleo rendeu, em 2013, 72,6 mil milhões de dólares (64,2 mil milhões de euros). A diminuição destas receitas faz baixar a quantidade de dólares disponíveis em Angola.
Previsões
Economia cresce pouco
Economia cresce pouco
O Governo de
Angola estimava, para 2015, um crescimento económico de 9,7%. Esta previsão foi
totalmente atropelada pela queda do preço do petróleo e vai ser revista em
baixa. A agência de notação financeira, Fitch, prevê agora um crescimento de
apenas 3% e avisa que a actual situação do país poderá forçar a uma revisão do
"rating" atribuído, caso o país não tome medidas tendentes a cortar a
despesa.
A Fitch atribui actualmente a Angola um "rating" BB- com perspectiva de evolução estável. "o sector não petrolífero vai sofrer o impacto da falta de dólares e da redução da despesa pública" alertou Carmen Altenkirch, directora de análise do crédito sobreano da Fitch, em declarações à agência Lusa. A desvalorização do brent vai fazer com que Angola perca 12,3 mil milhões de euros em receitas petrolíferas assumiu quarta-feira o ministro das Finanças angolano, Armando Manuel. Um relatório da OCDE de 2015 estimava para Angola um crescimento de 8,8% em 2015, baseando-se essa previsão nos grandes investimentos em infra-estruturas públicas, alguns dos quais serão agora suspensos.
Importações
Governo limita compras ao exterior
Governo limita compras ao exterior
Angola
decidiu, quarta-feira, impor limites à importação de produtos que constituem a
chamada cesta básica, que ronda os 2 milhões de toneladas. O Governo explica
esta medida com a necessidade de "reduzir paulatinamente" a compra ao
exterior de produtos como o óleo, a farinha, o arroz e o acúcar. Foram também
impostas quotas para produtos como os ovos e as bebidas. Estes tipos de produtos
representaram, segundo o jornal Público, 207 milhões de euros nas exportações
portuguesas entre Janeiro e Novembro do ano passado, um valor que equivale a
cerca de 30% do total do comércio internacional de bens agrícolas e alimentares
para Angola.
Só as exportações
de cervejas de Portugal para Angola valerão cerca de 150 milhões de euros.
"Estamos a tentar perceber o impacto desta medida. Vamos analisar nos
próximos dias, mas estamos apreensivos", comentou Paulo Gomes, director
para Angola do grupo Central de Cervejas, em declarações à agência Lusa.
Industrialização
Os projectos para mudar o país
Os projectos para mudar o país
O Governo de
Angola prometeu uma diversificação da economia do país, mesmo antes da descida
do preço de petróleo. Em Outubro de 2014, o ministro da Economia, Abrãao
Gourgel, anunciou um plano com este objectivo avaliado em 22,7 mil milhões de
dólares (20 mil milhões de euros), cobrindo 26 projectos com prazos de execução
entre os 18 e 24 meses.
As sete áreas cobertas por estes projectos eram a agro-indústria e alimentação, a indústria extractiva, a cadeia produtiva de petróleo e gás natural, serviços, energia e águas, transportes e logística. Gourgel salientou na altura, na Assembleia Nacional, que os investidores privados teriam de mobilizar recursos no exterior para suportas aquele montante de investimento.
Construção
Estradas e saúde podem ajudar
Estradas e saúde podem ajudar
As estradas
e o sector da saúde vão escapar aos cortes que o Governo de Angola será
obrigado a fazer na despesa pública por força da queda do preço do petróleo.
Estas duas áreas vão permanecer na lista dos projectos prioritários das
autoridades angolanas, o que garante uma protecção relativa às empresas
portuguesas envolvidas neste género de obras. Contudo, as construtoras vão
sentir atrasos nos pagamentos, uma situação recorrente em Angola.
A conversão das receitas de kwanzas para dólares e o seu expatriamento para Portugal será um problema crescente, face à falta de divisas no mercado. Existe também a possibilidade do Estado angolano pagar parte das suas dívidas em títulos do tesouro, repetindo uma fórmula já usada em 2011, depois de ter recuperado alguma normalidade em termos de pagamentos.
Angola é, de longe, o maior mercado das construtoras portuguesas, representando 38% do total da actividade fora de Portugal. Em 2013, o volume de negócios registado neste país foi de 2 mil milhões de euros. O segundo maior mercado é a Venezuela, representando apenas 9% da actividade no exterior.
Exportações
Tempos difíceis para milhares de empresas
Tempos difíceis para milhares de empresas
As
limitações às importações impostas pelo Governo de Luanda podem afectar a
actividade de muitas empresas nacionais. Segundo dados da AICEP existem nove
mil empresas portuguesas a exportar para Angola.
Empresas dos sectores agro-alimentar e das bebidas deverão ser penalizadas pelas barreiras que estão a ser levantadas pelas autoridades angolanas. Angola é o quarto principal destino das vendas de Portugal para o exterior, atrás da Espanha, Alemanha e França.
Até Novembro
de 2014, as exportações para Angola atingiram os 2,9 mil milhões de euros,
representado 7% do total das vendas portuguesas para o exterior. Em 2013 as
exportações para Angola haviam aumentado 4% e em 2012 atingiram um crescimento
recorde de 28%.
Aviação
TAP deixou de aceitar kwanzas
TAP deixou de aceitar kwanzas
A TAP
condicionou, desde segunda-feira, a emissão de bilhetes em Angola. Assim,
naquele país, a venda de bilhetes será restrita às viagens de rotas a iniciar
em Luanda. Esta medida tem efeitos desde esta segunda-feira, 26 de Janeiro.
Deste modo, um passageiro que pretenda fazer uma viagem a partir de Lisboa ou
de outro ponto de origem em voos TAP – exceptuando Luanda – já não poderá
comprar a sua passagem na capital angolana.
"É uma decisão meramente comercial", tomada perante o crescimento da emissão de bilhetes em Angola para viagens a iniciar em Lisboa, explicou ao Negócios o porta-voz da empresa. Particulares e empresas estavam a pagar em kwanzas na delegação da TAP em Luanda, viagens com origem em Lisboa. Assim, o pagamento na moeda angolana deixou de ser aceite para voos Lisboa-Luanda.
A medida foi uma forma de a TAP se salvaguardar das crescentes limitações impostas às exportações de capitais e da escassez de divisas estrangeiras em Angola. A TAP realiza um voo diário entre Lisboa e Luanda. Uma viagem ida e volta entre as duas cidades, em classe turística, ronda os 1.150 euros.
Banca
Procura de crédito deve abrandar
Procura de crédito deve abrandar
A
desvalorização do preço do petróleo e as suas consequências para a economia
angolana terão como resultado provável um abrandamento da procura de crédito
bancário no país. Uma evolução que poderá condicionar os resultados dos bancos
a operar em Angola, designadamente das instituições controladas por grupos
portugueses, como o Banco de Fomento Angola, do BPI, e o Millennium Angola,
controlado pelo BCP. Isto porque a redução da concessão de crédito deverá
penalizar os juros cobrados pelos bancos.
Outro dos efeitos da deterioração económica de Angola poderá ser um aumento do crédito com incumprimento. Uma subida do malparado exigirá um reforço do esforço de provisionamento, o que também terá implicações negativas nos resultados dos das instituições bancárias, já que terá maior peso nas contas.
Também a desvalorização do kwanza pode penalizar as contas dos bancos portugueses que controlam instituições angolanas, uma vez que parte dos resultados, que já serão menores, gerados deverá ser consumida pela diferença cambial.
Expatriados
Transferir dinheiro está complicado
Transferir dinheiro está complicado
Oficialmente,
existem 150 mil expatriados portugueses a trabalhar em Angola em áreas diversas
que vão da construção à banca, passado pela comunicação social. Existem,
contudo, estimativas não-oficiais que apontam para a presença de 200 mil
portugueses em Angola.
Com a
escassez de dólares no mercado, os expatriados estão a ter dificuldade em
transferir dinheiro para Portugal. Victor Jorge, um português a viver em
Luanda, contou ao Negócios que fez uma transferência bancária a 19 de Dezembro
de 2014 e que a mesma, até agora, não havia sido concretizada. Esta situação
vai também complicar a situação de famílias a residir em Portugal que dependem
do dinheiro enviado por estes expatriados.
António
(nome fictício) de um professor universitário que conversou com o Negócios a 20
de Janeiro prognosticava: "vai haver um período de alguma anormalidade, o
que não é inédito em Angola. O investimento público vai deixar de existir e
irão surgir dificuldades nos pagamentos". “” – FONTE : SÁBADO
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