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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Crise angolana ameaça nove mil empresas portuguesas



“”(…)  A queda do preço do petróleo fez abanar os alicerces da economia angolana e está a contaminar as milhares de empresas portuguesas que têm relações comerciais com o país.

É o efeito dominó. A queda do preço do petróleo fez  abanar os alicerces da economia angolana, vai derrubando peças e está a contaminar as milhares de empresas portuguesas que têm relações comerciais com o país.

O Governo angolano já começou a limitar  as importações, irá parar alguns dos projectos  de  obras públicas e  mostra a intenção de diversificar a economia. Em paralelo, começam a escassear dólares no mercado e o Banco Nacional de Angola já está a aplicar restrições na cedência de divisas à banca comercial.

Este efeito dominó não se esgota aqui. Os bancos portugueses com actividade em Angola vão ressentir-se do aperto da economia e os milhares de portugueses expatriados em Angola já estão a sentir dificuldades em transferirem dinheiro para Portugal.  A TAP já pôs trancas à porta e deixou de aceitar kwanzas (moeda angolana) para o pagamento de viagens entre Lisboa e Luanda.

O "exercício de austeridade" que terá impactos significativos para muitas empresas nacionais foi anunciado a 29 de Novembro pelo ministro das Finanças angolano, Armando Manuel, numa nota publicada no site do Ministério. Os primeiros efeitos começam agora.

Petróleo
O motor angolano avariou

O preço do petróleo foi o rastilho que fez rebentar o " exercício de austeridade" em Angola, anunciado a 29 de Novembro pelo ministro das Finanças, Armando Manuel. "Este quadro [preços do petróleo baixos] demandará para a economia angolana um exercício de austeridade e repriorização na despesa pública, para assegurar a sustentabilidade da agenda de desenvolvimento, assim como demandará uma acentuada racionalidade da parte de todos os agentes económicos (incluindo as famílias e empresas)", explicou o governante.

Inicialmente, Angola tinha previsto no Orçamento do Estado para 2015 receitas provenientes do petróleo, na permissa de 81 dólares o barril. Em Fevereiro, fará um orçamento rectificativo onde esse valor se situará nos 40 dólares.

O petróleo é o motor da economia angolana, vale 45% do PIB, capta uma boa fatia do investimento estrangeiro, é responsável por 98% das exportações e 80% das receitas fiscais. A venda de petróleo rendeu, em 2013, 72,6 mil milhões de dólares (64,2 mil milhões de euros). A diminuição destas receitas faz baixar a quantidade de dólares disponíveis em Angola.

Previsões
Economia cresce pouco

O Governo de Angola estimava, para 2015, um crescimento económico de 9,7%. Esta previsão foi totalmente atropelada pela queda do preço do petróleo e vai ser revista em baixa. A agência de notação financeira, Fitch, prevê agora um crescimento de apenas 3% e avisa que a actual situação do país poderá forçar a uma revisão do "rating" atribuído, caso o país não tome medidas tendentes a cortar a despesa.

A Fitch atribui actualmente a Angola um "rating" BB- com perspectiva de evolução estável. "o sector não petrolífero vai sofrer o impacto da falta de dólares e da redução da despesa pública" alertou Carmen Altenkirch, directora de análise do crédito sobreano da Fitch, em declarações à agência Lusa. A desvalorização do brent vai fazer com que Angola perca 12,3 mil milhões de euros em receitas petrolíferas assumiu quarta-feira o ministro das Finanças angolano, Armando Manuel. Um relatório da OCDE de 2015 estimava para Angola um crescimento de 8,8% em 2015, baseando-se essa previsão nos grandes investimentos em infra-estruturas públicas, alguns dos quais serão agora suspensos.

Importações
Governo limita compras ao exterior

Angola decidiu, quarta-feira, impor limites à importação de produtos que constituem a chamada cesta básica, que ronda os 2 milhões de toneladas. O Governo explica esta medida com a necessidade de "reduzir paulatinamente" a compra ao exterior de produtos como o óleo, a farinha, o arroz e o acúcar. Foram também impostas quotas para produtos como os ovos e as bebidas. Estes tipos de produtos representaram, segundo o jornal Público, 207 milhões de euros nas exportações portuguesas entre Janeiro e Novembro do ano passado, um valor que equivale a cerca de 30% do total do comércio internacional de bens agrícolas e alimentares para Angola.

Só as exportações de cervejas de Portugal para Angola valerão cerca de 150 milhões de euros. "Estamos a tentar perceber o impacto desta medida. Vamos analisar nos próximos dias, mas estamos apreensivos", comentou Paulo Gomes, director para Angola do grupo Central de Cervejas, em declarações à agência Lusa.

Industrialização
Os projectos para mudar o país

O Governo de Angola prometeu uma diversificação da economia do país, mesmo antes da descida do preço de petróleo. Em Outubro de 2014, o ministro da Economia, Abrãao Gourgel, anunciou um plano com este objectivo avaliado em 22,7 mil milhões de dólares (20 mil milhões de euros), cobrindo 26 projectos com prazos de execução entre os 18 e 24 meses.

As sete áreas cobertas por estes projectos eram a agro-indústria e alimentação, a indústria extractiva, a cadeia produtiva de petróleo e gás natural, serviços, energia e águas, transportes e logística. Gourgel salientou na altura, na Assembleia Nacional, que os investidores privados teriam de mobilizar recursos no exterior para suportas aquele montante de investimento.

Construção
Estradas e saúde podem ajudar

As estradas e o sector da saúde vão escapar aos cortes que o Governo de Angola será obrigado a fazer na despesa pública por força da queda do preço do petróleo. Estas duas áreas vão permanecer na lista dos projectos prioritários das autoridades angolanas, o que garante uma protecção relativa às empresas portuguesas envolvidas neste género de obras. Contudo, as construtoras vão sentir atrasos nos pagamentos, uma situação recorrente em Angola.

A conversão das receitas de kwanzas para dólares e o seu expatriamento para Portugal será um problema crescente, face à falta de divisas no mercado. Existe também a possibilidade do Estado angolano pagar parte das suas dívidas em títulos do tesouro, repetindo uma fórmula já usada em 2011, depois de  ter recuperado alguma normalidade em termos de pagamentos.

Angola é, de longe, o maior mercado das construtoras portuguesas, representando 38% do total da actividade fora de Portugal. Em 2013, o volume de negócios registado neste país foi de 2 mil milhões de euros. O segundo maior mercado é a Venezuela, representando apenas 9% da actividade no exterior.

Exportações
Tempos difíceis para milhares de empresas

As limitações às importações impostas pelo Governo de Luanda podem afectar a actividade de muitas empresas nacionais. Segundo dados da AICEP existem nove mil empresas portuguesas a exportar para Angola.

Empresas dos sectores agro-alimentar e das bebidas deverão ser penalizadas pelas barreiras que estão a ser levantadas pelas autoridades angolanas. Angola é o quarto principal destino das vendas de Portugal para o exterior, atrás da Espanha, Alemanha e França.

Até Novembro de 2014, as exportações para Angola atingiram os 2,9 mil milhões de euros, representado 7% do total das vendas portuguesas para o exterior. Em 2013 as exportações para Angola haviam aumentado 4% e em 2012 atingiram um crescimento recorde de 28%.   

Aviação
TAP deixou de aceitar kwanzas

A TAP condicionou, desde segunda-feira, a emissão de bilhetes em Angola. Assim, naquele país, a venda de bilhetes será restrita às viagens de rotas a iniciar em Luanda. Esta medida tem efeitos desde esta segunda-feira, 26 de Janeiro. Deste modo, um passageiro que pretenda fazer uma viagem a partir de Lisboa ou de outro ponto de origem em voos TAP – exceptuando Luanda – já não poderá comprar a sua passagem na capital angolana.

"É uma decisão meramente comercial", tomada perante o crescimento da emissão de bilhetes em Angola para viagens a iniciar em Lisboa, explicou ao Negócios o porta-voz da empresa. Particulares e empresas estavam a pagar em kwanzas na delegação da TAP em Luanda, viagens com origem em Lisboa. Assim, o pagamento na moeda angolana deixou de ser aceite para voos Lisboa-Luanda.
A medida foi uma forma de a TAP se salvaguardar das crescentes limitações impostas às exportações de capitais e da escassez de divisas estrangeiras em Angola. A TAP realiza um voo diário entre Lisboa e Luanda. Uma viagem ida e volta entre as duas cidades, em classe turística, ronda os 1.150 euros.

Banca
Procura de crédito deve abrandar

A desvalorização do preço do petróleo e as suas consequências para a economia angolana terão como resultado provável um abrandamento da procura de crédito bancário no país. Uma evolução que poderá condicionar os resultados dos bancos a operar em Angola, designadamente das instituições controladas por grupos portugueses, como o Banco de Fomento Angola, do BPI, e o Millennium Angola, controlado pelo BCP. Isto porque a redução da concessão de crédito deverá penalizar os juros cobrados pelos bancos.

Outro dos efeitos da deterioração económica de Angola poderá ser um aumento do crédito com incumprimento. Uma subida do malparado exigirá um reforço do esforço de provisionamento, o que também terá implicações negativas nos resultados dos das instituições bancárias, já que terá maior peso nas contas.

Também a desvalorização do kwanza pode penalizar as contas dos bancos portugueses que controlam instituições angolanas, uma vez que parte dos resultados, que já serão menores, gerados deverá ser consumida pela diferença cambial.

Expatriados
Transferir dinheiro está complicado

Oficialmente, existem 150 mil expatriados portugueses a trabalhar em Angola em áreas diversas que vão da construção à banca, passado pela comunicação social. Existem, contudo, estimativas não-oficiais que apontam para a presença de 200 mil portugueses em Angola. 
Com a escassez de dólares no mercado, os expatriados estão a ter dificuldade em transferir dinheiro para Portugal. Victor Jorge, um português a viver em Luanda, contou ao Negócios que fez uma transferência bancária a 19 de Dezembro de 2014 e que a mesma, até agora, não havia sido concretizada. Esta situação vai também complicar a situação de famílias a residir em Portugal que dependem do dinheiro enviado por estes expatriados. 
António (nome fictício) de um professor universitário que conversou com o Negócios a 20 de Janeiro prognosticava: "vai haver um período de alguma anormalidade, o que não é inédito em Angola. O investimento público vai deixar de existir e irão surgir dificuldades nos pagamentos". “” – FONTE : SÁBADO

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