“”(…) É cerca de três mil milhões o capital
que o Estado português deve agora recuperar, sem hesitações. Este enorme buraco
resulta, em grande parte, de empréstimos concedidos a personalidades ligadas a
José Eduardo dos Santos (JES).
No topo da lista está a sua irmã, Marta dos
Santos, que usufruiu dum crédito de 800 milhões de dólares. Estes serviram para
financiar negócios imobiliários em Talatona, numa parceria com o construtor
José Guilherme. O conjunto de bafejados pelo BESA com muitos milhões é extenso,
com destaque para membros da cúpula do MPLA, de Roberto Almeida a João Lourenço
ou França Ndalu, entre outros. E muitas aquisições de angolanos em Portugal
terão sido mesmo realizadas com o capital do BES. A herdade que os filhos de
JES adquiriram em Aveiras de Cima resultava aparentemente duma entrada de
dinheiro angolano em Portugal. Mas os milhões gastos pertenciam afinal aos
depositantes do BES. Esta longa lista de empréstimos, já divulgada em Luanda, é
ignorada pela Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES. Estranho! Até porque é
ao Parlamento que compete decretar a recuperação do capital desviado; e
destiná-lo à libertação das garantias de 3,5 mil milhões com que o estado
português está comprometido no processo de resolução BES/Novo Banco. Os
empréstimos que financiaram investimentos imobiliários em território nacional
são de fácil recuperação: liquidação dos créditos ou confisco imediato das
propriedades.
Relativamente ao capital transferido para Angola, só uma operação
diplomática junto de JES poderá obviar o problema. Mas mesmo esta será
exequível, desde que todos os atores políticos façam valer a sua proximidade ao
regime angolano. Começando pelo governo, cujo vice-primeiro-ministro visita
frequentemente Luanda onde promove negócios; passando pelo Partido Comunista,
que trata o MPLA como "partido irmão"; mas também pelo PS, parceiro
do MPLA na Internacional Socialista. E finalmente por Cavaco Silva, que sempre
se vangloriou das suas relações "verdadeiramente especiais" com o seu
"caro amigo" Dos Santos. “” – FONTE : CORREIO DA MANHÃ ( Artigo deOpinião de Paulo Morais )
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